Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Crise pode causar retração de carne de qualidade no mercado

Da Redação

Em 01/09/2015 às 16:48

Constatação de pesquisador em reprodução animal é feita diante da queda no poder aquisitivo do brasileiro

(Foto: João Paulo Barbosa )

Prestes a completar 43 anos de exercício profissional, iniciados desde que se tornou médico veterinário, o pesquisador Pedro Eduardo de Felício prevê que a crise econômica pode causar retração do consumidor diante histórico da produção de carne de qualidade no país. Recentemente, ele participou de encontro sobre o tema na Unoeste de Presidente Prudente.

Questionado sobre o que tem sido feito no Brasil para produzir carne bovina de qualidade, o doutor em ciência e indústria animal pela universidade estadual norte-americana do Kansas afirma ter muita coisa boa acontecendo, após várias fases pelas quais passou o desenvolvimento da genética. "Até o Plano Real, em 1994, o criador mantinha o gado como reserva de valor financeiro. Se o preço da arroba não respondia a expectativa para mercado, o animal permanecia no pasto. Não havia preocupação com a produtividade. O que só passou a existir com a então mudança dos rumos da economia, abrindo decisivamente o mercado externo", diz.

A exceção do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, prevaleceu e ainda predomina no território nacional a criação de raças zebuínas, com a estimativa de que 80% sejam nelore. Com o aumento da produtividade, o Brasil se torna o maior exportador do mundo, com destaque também no consumo interno, estimado per capta em 42 kg/ano.

Com a expansão do consumo e a produtividade em alta, o produtor começa a pensar no consumidor mais exigente. "Gente que come carne para apreciar o sabor, disposto a pagar um pouco mais", fala o pesquisador para falar sobre a produção de carne de qualidade.

"A melhor carne é da raça britânica. Tanto é que o sêmen da raça angus é vendido loucamente para a diversificação de cruzamentos. Na rotulagem e na embalagem são feitos apelos ao consumidor, com informações que remetem para o certificado de qualidade", explica Felício, que lamenta o fato do governo brasileiro ter imposto como condição para registro de marca, junto ao Ministério da Agricultura e Abastecimento, que o frigorífico esteja vinculado a uma associação de criadores.

Todavia, em termos de mercado interno, o consumo de carne de qualidade pode cair e impactar negativamente esse segmento. "A gente que atua nessa área teme por um retrocesso, por causa da crise econômica. A preocupação é que o consumidor se retraia. Desde FHC [presidente Fernando Henrique Cardoso] a classe média vem aumentando, tendo deixado de ser pirâmide, passando a ser losango. Ainda assim, é possível que as classes A e B mantenham o poder de compra, adquirindo alimentos que proporcionem sofisticação. Pelo menos a A, acho que sim", estima.

Felício explica que a origem da qualidade reside num conjunto de situações. Começa pela boa genética, para a qual admite o zebu, com a condição de que seja bem selecionado. A alimentação tem que ser boa, para o gado se desenvolver sem perder peso; considerando o ganho de peso diário como algo que contribui para a carne de qualidade. Outro fator é o manejo, incluindo questões como a desmama e a decisão em castrar ou não o animal. Porém, pontuou que o fundamental de tudo é a sanidade, proporcionada pelas instalações adequadas do abatedouro e a inspeção sanitária.

"Não adiante matadouro municipal. É preciso que o frigorífico tenha toda uma estrutura, incluindo bom sistema de refrigeração", disse. Feito o abate, a carcaça vai para a câmara frigorífica, mantida de 24 a 48 horas para que a temperatura interna da coxa atinja 7 graus centígrados, enquanto a superficial varie de 2 a 3 graus. Depois, vem a desossa, os cortes e a embalagem; tudo feito com critérios técnicos para então estabelecer a comercialização. Para os alunos da especialização, o assunto foi tratado em detalhes. "Eles sabem o porquê de estarem aqui; sabe o que querem", comenta.

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