Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Leishmaniose visceral apresenta lacuna, aponta estudo regional

Da Redação

Em 10/06/2019 às 12:00

Em Teodoro Sampaio, a leishmaniose visceral acomete predominantemente os cães

(Foto: Arquivo/AI)

Questões de saúde, econômica e geográfica motivaram estudo sobre a leishmaniose visceral em Teodoro Sampaio, o maior e mais populoso município do extremo Oeste Paulista, localizado no Pontal do Paranapanema. A principal constatação foi a existência de lacuna na relação entre cães e pessoas infectadas.

Pesquisa realizada pela enfermeira Regiane Soares Santana, utilizando dados consolidados do setor de saúde pública de 2010 a 2016, apurou a existência de 375 casos de leishmaniose visceral canina e dois em humanos. No ano passado, teve um outro caso em humano.  

Na saúde, a leishmaniose é uma doença negligenciada mundialmente, o que não é diferente em Teodoro Sampaio. Na geografia, tem o aspecto urbano e as vias de transporte terrestre que favorecem a dispersão do mosquito-palha, o vetor da doença.

Teodoro Sampaio é o maior município em extensão territorial na área próxima ao encontro dos rios Paraná e Paranapanema e o 8º do Estado com 1155 km², mas já foi o 1º com 2879 km², antes da emancipação de Euclides da Cunha Paulista e Rosana em 1990; portanto, há 39 anos.

Sua localização é próxima dos Estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul, com interligação por vias fluviais e terrestres. No Estado de São Paulo, além das estradas vicinais, a cidade é servida pelas rodovias Arlindo Béttio e General Euclides de Oliveira Figueiredo.

Segundo o estudo, são condições que favorecem a dispersão do vetor ou o trânsito de cães hospedeiros quando as pessoas mudam de cidade ou levam seus animais nas viagens. Como se não bastasse, tem ainda as condições favoráveis à proliferação do mosquito-palha: as margens dos rios e três grandes lagos de reservatórios das usinas hidrelétricas.

"Junto às usinas de Rosana, Taquaruçu e Primavera existem as áreas de matas formadas para compensação ambiental, que favorecem a reprodução do mosquito, já que as larvas se desenvolvem no solo úmido e em matéria orgânica. Nessas condições tem ainda o Parque Estadual do Morro do Diabo", diz a enfermeira.

Na zona urbana são várias áreas desabitadas e depósito de lixo clandestino em terrenos baldios também contribui com a proliferação. "A presença do mosquito-palha é constante e são muitos os casos da leishmaniose tegumentar, doença que acomete as pessoas e provoca manchas na pele", pontua.

Porém, a leishmaniose visceral – que afeta fígado, baço e medula óssea – é bem mais rara, ainda que cães em números significativos sejam portadores dessa doença. Por essas questões, envolvidos em pesquisas sobre leishmaniose no Pontal levantaram uma hipótese sobre a lacuna na relação entre cães e pessoas infectadas.

O orientador do estudo em Teodoro, o médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, revela que a hipótese é de que a pessoa infectada com a leishmaniose tegumentar pode ser imune à leishmaniose visceral; ou seja: uma doença pode ser o fator protetor da outra. Essa hipótese será tratada em outra pesquisa.

Projeção internacional

Outro estudo sobre o assunto ganhou projeção internacional estudo ao abordar a dispersão da leishmaniose visceral no tempo e no espaço urbano de Presidente Prudente. Artigo sobre o assunto acaba de ser publicado em uma das mais importantes revistas da área de epidemiologia do mundo pelo seu alto impacto científico, a Parasites & Vectors, do Reino Unido.

Em termos de espaço, são três os pontos críticos com fatores associados pelos quais a doença se alastra: 1- área com cães infectados, 2- depósitos clandestinos de lixo, 3- extratos florestais e cursos de água.

Para chegar a esses dados e extrair deles elementos comprovatórios, foram necessários levantar e analisar informações. Trabalho minucioso, que incluiu pesquisadores de diferentes instituições.

Conforme o orientador do estudo, o médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, a fase inicial da pesquisa feita pela enfermeira Loris Aparecida Felício Daniel, na condição de mestranda, foi levantar o número de cães infectados e ver, ao longo do tempo de 2010 a 2015, quais as regiões de maiores incidências.

Alta infestação

No primeiro biênio foram detectados três grandes focos, com alta infestação: 1- nas imediações do lixão (aterro sanitário) na zona leste, 2- próximo ao córrego do Limoeiro e 3- na área acima à confluência dos trechos canalizados do córrego do Veado e da Colônia Mineira, entre o shopping e o Estádio Prudentão.

Conforme o Dr. Euribel, fortes ações da Vigilância Epidemiológica Municipal resultaram em média e baixa infestação em duas áreas no segundo biênio, mas nas imediações do lixão o índice continuou alto, com o surgimento de novos cães infectados. No terceiro biênio surgiu uma novidade: a região do bairro Ana Jacinta.

Nessa parte do estudo foi possível constatar como a contaminação de cães se dispersou pela cidade, a partir do 1º caso registrado, em 2009, nas áreas 2 e 3 do zoneamento epidemiológico, localizadas entre o shopping e o estádio. Em 2010, foi para o centro e depois se espalhou por todo o perímetro urbano.

Fatores ambientais

Na segunda parte, os envolvidos na pesquisa procuraram saber quais fatores ambientais estão envolvidos na dispersão do vetor, o mosquito palha. Foi a partir daí que, com trabalho minucioso e de acordo com critérios científicos, chegaram aos três pontos críticos que apontam fatores associados.

Assim como o lixo atrai o cachorro, este por sua vez, devido ao sangue ser quente, atrai o mosquito. Ambos os casos são possíveis interferências em busca de solução. Mas, os depósitos de lixo clandestino são muitos e se multiplicam pela falta de educação ambiental e também pela existência de enormes vazios urbanos.

A especulação imobiliária faz parte do grave problema e de forma muito decisiva, sendo que onde ocorre a expansão da leishmaniose, certamente acontece o mesmo com a dengue, cujo vetor é o mosquito Aedes Aegypti. Já os recursos naturais, os extratos florestais e cursos de água, são intocáveis.

Políticas públicas

 Esses dados todos, ofertados pelo estudo científico, são de importância para o cumprimento ou criação de novas políticas públicas. E são reforçados pela agravante de seis pessoas terem sido acometidas pela doença, entre 2013 e 2017, das quais duas vieram a óbito, o que representa 33,3%.

Percentual que reafirma a alta letalidade da leishmaniose visceral, pois se não for detectada precocemente pode levar à morte e de forma muito rápida, conforme alerta Carneiro que tem atuado na ciência com diferentes estudos sobre essa doença que está classificada entre as que são consideradas negligenciadas no mundo. (Colaborou Assessoria de Imprensa da Unoeste)

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